segunda-feira, 8 de março de 2010

O que há

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos.

3 comentários:

  1. "Há um grande cansaço na alma do meu coração. Entristece-me quem eu nunca fui, e não sei que espécie de saudades é a lembrança que tenho dele. Caí contra as esperanças e as certezas, com os poentes todos."
    Fernando Pessoa

    Agora vocês entendem por que eu digo que estou velho e cansado???

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  2. Meu cansaço
    Eu sei e conheço.
    Está incrustado
    Em minha pele
    Como poeira de anos.
    Pesam-me as pálpebras
    E ombros...
    Sou um Atlante carregando
    Meu mundo...
    E ele não caiu...
    Mas quão bonito ele é.
    Esse mundo que me pesa
    Os ombros
    E me cansa os olhos...
    E eu o conheço... Acho.
    E quero mais...
    Que venha mais
    Poeira do mundo
    Construir minha couraça
    E me fazer melhor...
    Meu cansaço é minha construção.
    Não estou só.

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