segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Das contrariedades.

    "Tu ficas indignado e se queixas! Não compreende que todo o mal provém não do que te acontece, mas sim de tua indignação e de tuas reclamações?  Do meu ponto de vista, não existe miséria para um homem a não ser a de achar que algo que faz parte da natureza das coisas não está correto. Nem a mim mesmo suportarei quando, um dia, considerar algo insuportável. Minha saúde não é boa; faz parte do destino. Meus criados estão na cama? minha renda está baixa? Perdas, ferimentos, cansaços, inquietudes me assolam? São coisas que acontecem. Indo além, elas devem acontecer, pois não são obras do acaso, estavam determinadas.
    Acredita, o que agora te digo faz parte dos meus mais íntimos sentimentos. Sempre que a vida me parece cruel e adversa, imponho a seguinte regra a ser seguida: não obedecer aos deuses, mas segui-los. Faço isso porque quero, não por obrigação. Nada do que vier a me acontecer me abaterá e me deixará com a aparência alterada. Aceitarei de boa vontade aquilo que me cabe, pois tudo o que provoca nossos sofrimentos e nossos medos é a lei da vida. E eu, meu caro Lucílio, não espero que assim seja diferente e que possa estar livre disso.
    Tua bexiga te incomoda? Chegaram más notícias pelo correio? Há perdas incessantes? Indo mais longe, temes por sua vida? Pensa bem, não sabias que desejava tudo isso ao envelhecer? Tudo isso faz parte do percurso de uma longa vida, como a poeira, a lama e a chuva durante uma viagem.
    "Mas eu gostaria de viver livre de todas essas incomodações", dizes. Afirmação tão insensata não é digna de um homem. Aceita como achares melhor esse meu conselho, se não for pelo que nele há de bom, pelo menos em razão da minha boa vontade. "Não queiram os deuses e deusas que a fortuna te prenda em seus prazeres".
    Interroga a ti mesmo, pressupondo que um deus te permita escolher se preferes viver em um mercado ou em um acampamento. Viver, Lucílio, é ser soldado. É por isso que aqueles que se arriscam em missões mais perigosas, através de penhasco e desfiladeiros, são os mais valentes, a elite da tropa. Já aqueles que se ocupam com leves tarefas, enquanto os outros dão o máximo de si, esses não passam de mocinhos delicados, no abrigo, mas sem honras. Passa bem!"

Sêneca.  Ao amigo Lucílio a quem saúda. 




Sêneca foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como Séneca (ou Sêneca), o Moçoo Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estóico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia nadramaturgia européia renascentista.


Novamente uma grande obra literária que eu escrevo a vocês. Minhas sinceras desculpas, novamente, pela falta de conhecimento ao se fazer um blog melhor. Um dia eu aprendo!!!

4 comentários:

  1. Chama aprendendo a viver. Sêneca o autor como eu disse na postagem comecei a ler agora... ah e um dado q eu achei interessante esse cara é contemporaneo de Jesus Cristo!!!

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  2. Profundamente intenso...
    "Do meu ponto de vista, não existe miséria para um homem a não ser a de achar que algo que faz parte da natureza das coisas não está correto." Amei tanto isso...

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